28 maio, 2016

A responsabilidade me dada é minha.

A responsabilidade me dada é minha. Me foi dado a responsabilidade de ensinar, ensinar um conteúdo previamente programado, com data para começar e para terminar. Pronto. Para isso me pagariam um bom valor em dinheiro. Ok, aceito. Estou precisando. E lá fui eu, fazer o que me foi solicitado. Dia 01, OK. Dia 02, ok. Dia 03, ok. Dia 04, pera, alguém me adicionou no Facebook. Ah, é um aluno, ok! Dia 05, Professora, posso lhe dar um abraço? Ah, ok! Dia 06, Professora, a senhora está bonita hoje, ok! Dia 07, Professora, eu decidi que vou seguir o seu caminho, serei analista do comportamento, ok! Dia 08, Essa professora é horrível. Vamos tirá-la. Dia 09, Professora, estou com a senhora, a senhora tem meu apoio. Dia 10, professora, posso ser monitor da sua disciplina?. Dia 11, Professora, o seu conteúdo é difícil demais, pode parar com isso, caso contrário lhe denunciarei para a coordenação. Dia 12, Professora, a senhora é um exemplo de mestre. Dia 12, professora, eu não vou fazer seu trabalho, como a senhora pode resolver isso?. Dia 13, professora, eu amei fazer seu trabalho. E quem me enganou dizendo que eu precisaria apenas ensinar um conteúdo previamente estabelecido sabia que tudo isso aconteceria? Tenho 30 anos e ministro aula, formalmente, há 2 anos. Sai da faculdade há 5 anos. E todos os dias acordo e tento me apropriar do que me deram. Mas o esforço é maior, preciso me apropriar do que não me deram. Preciso me apropriar do que querem de mim. Querem de mim, mais do que o conteúdo, querem a minha presença, querem meu cuidado, querem meu olhar, o meu sorriso, a piada no meio da aula, a compreensão, e querem até o meu idiotismo. Eu aprendi a dar tudo isso nesses dois anos. Aprendi a oferecer inclusive o que não tinha, ou pelo menos achava que não tinha. E sempre me espelhei, inconscientemente-e-agora-ficou-consciente, em alguém que sempre abriu as portas pra mim. Sempre. Esse cara, chamado Olavo Galvão, abriu as portas do laboratório para uma cientista de quintal durante muitos anos. E hoje, ao ouvir de alunos que eu abri portas a eles, me enche de um orgulho avassalador. É louco porque não tenho exata propriedade disso, simplesmente faço o que acho que tenho que fazer. Mas eu preciso me atentar nos efeitos disso no mundo do outro. E eles são tão novinhos, muitas vezes frutos de fracasso (porque não passaram em uma federal) e encontram ali a chance de serem o melhor que puderem ser. Preciso aceitar que a responsabilidade que me é dada é minha. Meu coração está cheio de Tiagos, Dieles, Thamires, Veras e tantos outros...